domingo, 4 de junho de 2017

NOSSA FÉ É CAPITALISTA?

Pr. Claudio Marcio
                A Bíblia prescreve sobre fé em diferentes textos, porém o livro de Hebreus é um clássico pedagógico sobre esse assunto em seu capítulo 11. Ao atribuir à fé uma visão de convicção e certeza, atribui à mesma um liame com a razão, que nos parece ser algo antagônico a ideologia da fé movida pelo que sentimos (uma fé emocional). Isto não é nada de novo em se tratando da Bíblia Sagrada, porém, em uma cultura (brasileira) que a emoção parece sempre prevalecer em nossas reuniões que têm o objetivo de adorar a Deus em Espírito e em Verdade, porém focadas em despertar o emocional do indivíduo a fim de que ele entenda sentimentalmente, que valeu a pena participar do culto, pois “sentiu” a presença de Deus isto simplesmente é paradoxal.
                Vamos devagar para não divagar sobre o que queremos passar aos nossos leitores: Fé envolve Racionalidade, apesar de em nossos cultos ser promovido o Emocional do indivíduo. Não ignoramos o best seller de Daniel Goleman sobre Inteligência Emocional, porém o que estamos focando é a emoção desprovida de inteligência.
                Apesar da fé não depender de conhecimento (razão), depende de convicção racional para vivenciá-la. Para ser mais claro e até didático, darei alguns exemplos: Abraão levantou o cutelo para matar Isaque, não foi pela emoção, pois seus sentimentos (ele era o pai de Isaque; Isaque era o filho prometido por Deus, quando ele tinha 75 anos) estavam em conflito. Sadraque, Mesaque e Abdenego diante de Nabucodonosor e sua estátua de ouro, sua convicção em não servir a um falso deus era muito maior do que os conflitos emocionais imanentes por saber que perderiam à vida, posição social, econômica e política. A fé precisa ser vivida diariamente, confessada constantemente e nossas emoções não podem confirmá-la antes de fatos, ou seja, nossas emoções nos levam a um pragmatismo evidente. A fé nos conduz a ações inusitadas, incoerentes (do ponto de vista da lógica humana), porém que coaduna com o transcendente divino incognoscível YHWH (Yahweh).
                Diante do exposto acima posso entrar na proposta de nosso título: A nossa fé é capitalista? Como assim? A fé explora o próximo? Precisa que alguém faça alguma coisa para que sejamos beneficiados financeiramente? A fé produz lucros? “Isto é uma incoerência, completamente contra as sagradas escrituras, como alguém pode pensar isto?” É possível que alguém fale ou pense isto sobre o que está lendo... Então, a fé não pode gerar benefícios financeiros? Alguém pode dizer é claro que pode. E eu concordo com o resultado de uma fé em Deus, focada em obedecê-lo, ter intimidade com Ele e fazer a sua vontade de forma plena. Mas isto não é para todos. O quê? Isto mesmo, nem todos seremos ricos, teremos os melhores carros, faremos as grandes obras, ou tão pouco estaremos no centro das atenções.
                Fé não é exploração, é submissão; não é ganho, é perda e entrega; não é imposição, mas sim submissão e dependência; não é lucratividade, multiplicação e exploração, porém é distribuição, divisão e comunhão. Por mais absurdo que pareça, a fé é a certeza do que Deus quer para sua vida, mesmo sem ter condições de conhecê-lo em sua plenitude divina, é se aproximar dEle, sem jamais vê-lo, buscá-lo sem conseguir tocá-lo, pois ele não está acessível em nossa dimensão, pois sua dimensão é sublime, superior e transcendental.
                Nossa fé é capitalista quando se aproxima de Deus para obter ganhos pessoais.
Nossa fé é capitalista quando não é direcionada por quem somos, mas pelo que queremos obter em servi-lo.
Nossa fé é capitalista quando enriquecemos por servir a Deus e não conseguimos dividir nossa riqueza com aqueles que também o servem, porém não enriqueceram.
Nossa fé é capitalista quando falamos para os outros o que entregar, até mesmo entregar o tudo, aí os exploramos, pois nós mesmos usufruímos dessa entrega, mas não retribuímos com nada.
Nossa fé é capitalista quando descontruímos a entronização de Deus em nossa essência e nela colocamos a Egolatria do Ser finito, em outras palavras, quando o humanismo prevalece sobre o teísmo.
Então não estou falando de fé, mas de uma prática que, parecendo com a fé, agride a sã doutrina, pois direciona o homem para bem longe de Deus, com práticas que em nada seguem os ensinamentos de Cristo, dos Apóstolos, da Igreja Primitiva guiada pelo Espírito Santo. A resposta à pergunta de nosso título:
Nossa fé é capitalista? Não...
Pois cremos que Deus pode nos fazer prosperar, independente de quem somos e fazemos, porém, essa prosperidade não é da mesma forma para todos, pois cada um é chamado para uma ação/missão, sendo assim, servir a Deus por fé não significa ter lucros imediatos de “primeiro grau”, mas sim é um investimento humano ao ser divino, que pode nos dar resultados de diferentes formas (o estilo da prosperidade de Deus: mais irmãos, casas, famílias – Marcos 10:29-31), porém, com a certeza de uma vida eterna em Cristo Jesus de benefícios inesgotáveis.
Paz, Graça, Amor e Redenção.

Duque de Caxias, 04 de Junho de 2017.

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