1
Quem deu crédito à nossa pregação? e a quem se manifestou o braço do Senhor?
11
Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu
conhecimento o meu servo justo justificará a muitos, e as iniquidades deles
levará sobre si.
É
possível que em algum momento de sua vida (isto já aconteceu comigo), você fez
a seguinte pergunta: Quem é que tem confiado no que eu digo? Às vezes a crise é
tão grande, que até você titubeia diante das circunstâncias adversas, ou seja,
nem você consegue dar crédito ao que diz.
Mas, o
que é realmente intrigante é constatar que existem pessoas que não conseguem
perceber a ação de Deus em suas próprias vidas. Isto infelizmente é uma
realidade. Ao passarem por adversidades, essas pessoas ignoram a ação de Deus,
pois associam o poder de Deus apenas ao sucesso, esquecendo-se que Deus caminha
com seu povo pelo deserto e que também manifesta-se em meio à tempestade.
2
Pois foi crescendo como renovo perante ele, e como raiz que sai duma terra
seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma
beleza víamos, para que o desejássemos.
Isto dito e escrito pelo Profeta Isaías
é de certa forma reconfortante, porém somente quem perde tudo, ou quase tudo,
sabe dar valor a esse versículo. Essa palavra renovo é tudo de bom, ela
demonstra a capacidade da planta em se reinventar, assim como na mitologia
grega, a ave Fênix ressurge das cinzas, a vida ressurge em meio a uma árvore
seca. Alguns estão com a vida seca, com a alma seca, com as esperanças secas,
sem nenhuma expectativa de futuro, enfim, as pessoas em sua volta meneiam a
cabeça e constatam, seu lamentável estado de miserabilidade, desesperança e
fracasso em todos os sentidos. Mas há algo que as pessoas não podem ver, e é
isto que Isaías, inspirado pelo Soberano Espírito Santo escreve aqui: o desejo
de fora, a casca, a aparência, é isso que as pessoas estão olhando. Porém é
aquilo que elas não podem ver, que está implícito nesse texto – o âmago do ser,
o mais profundo de nossa alma e espírito. É dali que Deus faz brotar à nova
vida. Aleluia!
3
Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos
sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e
não fizemos dele caso algum.
É fácil desprezar alguém que te fez
algum mal. Mas em se tratando do personagem narrado por Isaías, qual foi o mal
que ele fez? Bem, arrisco uma resposta direta: Ela não satisfez os desejos
particulares das pessoas. Desejos superficiais e supérfluos. Esse personagem
tinha experiência em sofrer, podemos dizer pelo texto que, ele era perito em
sofrimentos, seu currículo de sofredor não causava inveja a ninguém, mas
evidenciava sua capacidade e tenacidade diante da dor e do pesar. E, como nossa
sociedade é marcada pelo que é aparente, quem quer ficar próximo a uma pessoa
que está sofrendo? Quem tem consideração pela dor do outro? A resposta é
pessoal, mas no geral, bem poucos estão dispostos a partilhar com a dor do
próximo, em ser solidário e ter um olhar de agradabilidade para quem é
desprezível.
4
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as
nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
Nisto não há o que negar: apesar de
estar sofrendo, de ser desprezível aos olhos dos que passam em sua volta, esse
personagem não carrega uma enfermidade que é sua, ou seja, sua dor, enfermidade
e sofrimentos eram consequência de sua posição em levar o mal que pertencia aos
que a ele olhavam com desprezo. Que ironia! Aqueles que deveriam ser gratos ao
personagem, pois ele carrega suas dores e misérias, o consideram um aflito,
ferido por Deus e até oprimido. Esse personagem é considerado uma amaldiçoado.
5
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das
nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados.
Esse é o apogeu da reflexão de Isaías.
A constatação e o reconhecimento de que tudo que o personagem está sofrendo é
consequência, não de seu erro, mas de seu posicionamento em trocar de lugar com
os verdadeiros culpados. A consequência disso é o sofrimento do personagem e o
alívio, paz e tranquilidade para os que foram beneficiados por ele.
Você já viu um osso sendo esmagado? A
dor é insuportável, no entanto, apesar desse personagem não ter tido um osso
quebrado ou esmagado, a expressão utilizada é para retratar a dor insuportável
que ele vivenciou por causa do erro dos outros.
6
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu
caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós.
Isaías se preocupa em demonstrar o
afastamento dele próprio e dos demais do caminho da obediência, assim como
ovelhas se afastam do rebanho. Ou seja, os verdadeiros encrenqueiros,
bagunceiros e arruaceiros, cometem a iniquidade, porém quem paga a conta é o
personagem descrito por Isaías.
7
Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é
levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores,
assim ele não abriu a boca.
O que sofreu o personagem? Opressão e
aflição. O que fez para se defender? Não abriu a sua boca? Por quê? Porque era
um cordeiro. Ele foi predestinado a ser o que tinha que ser: uma ovelha para o
sacrifício.
8
Pela opressão e pelo juízo foi arrebatado; e quem dentre os da sua geração
considerou que ele fora cortado da terra dos viventes, ferido por causa da
transgressão do meu povo?
Opressão, juízo, ódio, vingança,
maldade, perversidade tiraram esse personagem da terra dos viventes. Mas algo
ele não tinha: Culpa. Nenhuma culpa se achou nele, sendo assim, foi feito
culpado, pela culpa dos outros.
9
E deram-lhe a sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte, embora nunca
tivesse cometido injustiça, nem houvesse engano na sua boca.
Alguém que em vida não cometeu
impiedade, teve sua sepultura com os ímpios, alguém que em vida não usufruiu de
riquezas, teve uma sepultura cedida por um rico. O mundo é injusto, a vida é
injusta.
10
Todavia, foi da vontade do Senhor esmagá-lo, fazendo-o enfermar; quando ele se
puser como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias,
e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos.
O que é impressionante, quase que
inacreditável é esse versículo afirmar que “foi da vontade do Senhor
esmagá-lo”, se não tivermos um olhar teológico e compreendermos a metáfora do
texto, poderemos pensar: Deus é Sádico? Mas o que o autor nos propõe é o
Beneplácito (Consentimento) de Deus em permitir todo esse sofrimento e não o Deliciar-se
em ver e permitir tais arbitrariedades humanas. Mas tudo isso era necessário, a
fim de permitir uma ação restauradora, perfeita e eterna: a Propiciação pelos
verdadeiros culpados.
Tudo o que Deus faz tem um propósito.
Eis o propósito descrito agora por Isaías. O fruto de todo o sofrimento passado
pelo personagem é a justificação e transferência de iniquidades de muitos.
12
Pelo que lhe darei o seu quinhão com os grandes, e com os poderosos repartirá
ele o despojo; porquanto derramou a sua alma até a morte, e foi contado com os
transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos
transgressores intercedeu.
O reconhecimento é uma realidade
inquestionável nesse versículo apresentado por Isaías. Ao passar por todo o
sofrimento, dor e injúrias, o personagem tem “moral” suficiente para receber os
benefícios com louvor, pois deu sua vida para conquistar o direito à vida para
milhares de pessoas e retomar à sua própria com honra eternal.
Esse personagem, descrito por Isaías, é Jesus o Crucificado, ele pode,
ele quer e ele deseja fazer isto por todos, mas ele não obriga ninguém a
aceitá-lo. Mas quem nele crer será perdoado pelos seus pecados/iniquidades e
terá direito à vida eterna.
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