quinta-feira, 6 de abril de 2017

Quando Eliseu amaldiçoou os “meninos” ele estava defendendo a Deus?


Pr. Claudio Marcio
II Reis 2:23-24
23 - Então subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo; sobe, calvo!
24 - E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou no nome do SENHOR; então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos.

Já li esse texto a muitos anos atrás (em minha adolescência, creio eu), e na época cheguei a imaginar: “Essa é uma mancha no Ministério de Eliseu. ” Recentemente um irmão em Cristo fez um comentário que me fez relembrar a consideração supracitada. Esse amado irmão, que tem grande zelo pela Palavra de Deus escreveu-me, considerando esse texto como sendo um abuso de poder de Eliseu, ou melhor, um mal-uso do poder que Eliseu tinha. Me comprometi a analisar o texto ante de emitir minha opinião, que, com certeza, não é a mesma que tive na adolescência, pois hoje, conforme disse ao amado irmão, tenho uma “luneta/lupa” constituída dos seguintes elementos que a formam perpassando pelos contextos: Histórico, Geográfico, Linguístico, Cultural, Teológico, Denominacional e Crítico Pessoal. Nem sempre se faz necessário utilizar todos os elementos, quando pelo menos a metade deles já me fazem constatar uma unidade, já me sinto tranquilo e satisfeito com a análise. Posto isto, vamos a análise do texto.
De imediato somos conduzidos mentalmente a avaliar o que lemos: Um profeta amaldiçoando alguns meninos (cerca de 42 foram mortos por um urso), por tê-lo chamado de calvo. Diante de nossa atual realidade de democracia, Estatuto da criança e do Adolescente, violência desenfreada, intolerância religiosa e stress emocional nosso parecer, a princípio é de que Eliseu exagerou na dose, cheio do poder de Deus, não pensou bem, não dialogou com os tais meninos e partir para ignorância destemperada, que no caso é a maldição, em nome de Deus, de meninos indefesos e, quem sabe inocentes.
Mas, usando a “lupa” com os elementos históricos, culturais, linguísticos e teológicos vamos considerar mais uma vez o texto, considerando também o contexto (2 Reis 2:1-24), Eliseu tinha acabado de assumir o posto de profeta descendente direto de Elias (Estava fresquinho no cargo), experimentou o poder de Deus ao atravessar o rio Jordão encostando a capa e as águas se dividindo; fora paciente quando quiseram procurar Elias, mesmo ele dizendo que ele não estava no local onde insistiram em procurar e, finalmente, realizara a maravilha (sendo usado por Deus e reconhecendo que o poder e ordem provinham dele) de sarar as águas, deixando as mesmas de serem mortais e estéreis. O contexto nos aponta, seguidamente, ações em que Eliseu parece estar sendo conduzido por Deus, guiado pelo poder do Espírito Santo, recebido após a subida de Elias, em um redemoinho (II Reis 2:11). Seria então essa ação de Eliseu (2 Reis 2:23,24), uma atitude impensada, soberba e consequência de um abuso de poder, uma falta de sabedoria e arrogância?
Vamos nos ater ao acontecimento em seu contexto histórico, sendo assim, segundo a Bíblia do expositor o período em que viveu o profeta Eliseu datava 896 a.C. ou seja, levando em consideração que Jean Jaques Rousseau (Século XVIII) é praticamente o primeiro a considerar a criança, em sua infantilidade, constatamos que a visão do profeta não é igual a nossa, pois nessa época a criança era considerada um adulto em miniatura. Mas conforme disse acima, precisamos de mais alguns contextos para corroborarmos a ação de Eliseu. Vamos ao contexto linguístico, pois o Antigo Testamento foi escrito em Hebraico e traduzido depois pela Septuaginta para o grego, mais tarde a Vulgata Latina o traduzirá para o latim. Nesse caso específico vamos ao termo em hebraico traduzido como menino na’ar, na realidade quer dizer rapaz ou jovem. Ou seja, não eram 42 meninos, mas sim 42 rapazes. A palavra calvo/carea, karea no hebraico tinha um sentido de desprezo, homem de belial ou leproso. Esses argumentos linguísticos já nos permitem ter uma visão diferente, da que, em princípio, tínhamos. Mas vamos continuar nossa investigação, agora no contexto cultural. Não precisamos nem procurar muito, pois se Eliseu não era careca, de fato, e estava sendo comparado como um homem desprezível, na cultura da qual fazia parte isto já era uma grande humilhação, porém o fator agravante se dá no contexto teológico, pois quando uma pessoa insultava alguém reconhecida como representante de Deus é como se estivesse insultando o próprio Deus, ou seja, se fosse Davi, ele teria matado um a um pois estavam afrontando ao Deus vivo, não reconhecendo a unção de Deus na vida de Eliseu. Entretanto, quando Eliseu amaldiçoa os rapazes, o faz, não por se sentir ofendido, tão pouco em seu próprio nome, mas no nome daquele que era, de fato, o alvo das injúrias: O Deus de Israel.
Que nós possamos considerar os contextos na análise de textos como esse. Deus nos abençoe.

Referências
Bíblia de Estudos Almeida.
Bíblia do Expositor.
Comentário Bíblico Beacon.
Disponível em:

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