Pr.
Claudio Marcio
II Reis 2:23-24
23 - Então subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo
caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe,
calvo; sobe, calvo!
24 - E, virando-se ele para trás, os viu, e os
amaldiçoou no nome do SENHOR; então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram
quarenta e dois daqueles meninos.
Já li esse texto a muitos
anos atrás (em minha adolescência, creio eu), e na época cheguei a imaginar: “Essa
é uma mancha no Ministério de Eliseu. ” Recentemente um irmão em Cristo fez um
comentário que me fez relembrar a consideração supracitada. Esse amado irmão,
que tem grande zelo pela Palavra de Deus escreveu-me, considerando esse texto
como sendo um abuso de poder de Eliseu, ou melhor, um mal-uso do poder que
Eliseu tinha. Me comprometi a analisar o texto ante de emitir minha opinião,
que, com certeza, não é a mesma que tive na adolescência, pois hoje, conforme
disse ao amado irmão, tenho uma “luneta/lupa” constituída dos seguintes
elementos que a formam perpassando pelos contextos: Histórico, Geográfico,
Linguístico, Cultural, Teológico, Denominacional e Crítico Pessoal. Nem sempre
se faz necessário utilizar todos os elementos, quando pelo menos a metade deles
já me fazem constatar uma unidade, já me sinto tranquilo e satisfeito com a
análise. Posto isto, vamos a análise do texto.
De imediato somos
conduzidos mentalmente a avaliar o que lemos: Um profeta amaldiçoando alguns
meninos (cerca de 42 foram mortos por um urso), por tê-lo chamado de calvo. Diante
de nossa atual realidade de democracia, Estatuto da criança e do Adolescente,
violência desenfreada, intolerância religiosa e stress emocional nosso parecer,
a princípio é de que Eliseu exagerou na dose, cheio do poder de Deus, não
pensou bem, não dialogou com os tais meninos e partir para ignorância
destemperada, que no caso é a maldição, em nome de Deus, de meninos indefesos
e, quem sabe inocentes.
Mas, usando a “lupa” com
os elementos históricos, culturais, linguísticos e teológicos vamos considerar mais
uma vez o texto, considerando também o contexto (2 Reis 2:1-24), Eliseu tinha
acabado de assumir o posto de profeta descendente direto de Elias (Estava
fresquinho no cargo), experimentou o poder de Deus ao atravessar o rio Jordão
encostando a capa e as águas se dividindo; fora paciente quando quiseram
procurar Elias, mesmo ele dizendo que ele não estava no local onde insistiram
em procurar e, finalmente, realizara a maravilha (sendo usado por Deus e
reconhecendo que o poder e ordem provinham dele) de sarar as águas, deixando as
mesmas de serem mortais e estéreis. O contexto nos aponta, seguidamente, ações
em que Eliseu parece estar sendo conduzido por Deus, guiado pelo poder do
Espírito Santo, recebido após a subida de Elias, em um redemoinho (II Reis 2:11).
Seria então essa ação de Eliseu (2 Reis 2:23,24), uma atitude impensada,
soberba e consequência de um abuso de poder, uma falta de sabedoria e
arrogância?
Vamos nos ater ao
acontecimento em seu contexto histórico, sendo assim, segundo a Bíblia do
expositor o período em que viveu o profeta Eliseu datava 896 a.C. ou seja,
levando em consideração que Jean Jaques Rousseau (Século XVIII) é praticamente
o primeiro a considerar a criança, em sua infantilidade, constatamos que a
visão do profeta não é igual a nossa, pois nessa época a criança era
considerada um adulto em miniatura. Mas conforme disse acima, precisamos de
mais alguns contextos para corroborarmos a ação de Eliseu. Vamos ao contexto
linguístico, pois o Antigo Testamento foi escrito em Hebraico e traduzido
depois pela Septuaginta para o grego, mais tarde a Vulgata Latina o traduzirá
para o latim. Nesse caso específico vamos ao termo em hebraico traduzido como
menino na’ar, na realidade quer dizer rapaz ou jovem. Ou seja, não eram 42
meninos, mas sim 42 rapazes. A palavra calvo/carea, karea no hebraico tinha um
sentido de desprezo, homem de belial ou leproso. Esses argumentos linguísticos
já nos permitem ter uma visão diferente, da que, em princípio, tínhamos. Mas vamos
continuar nossa investigação, agora no contexto cultural. Não precisamos nem
procurar muito, pois se Eliseu não era careca, de fato, e estava sendo
comparado como um homem desprezível, na cultura da qual fazia parte isto já era
uma grande humilhação, porém o fator agravante se dá no contexto teológico,
pois quando uma pessoa insultava alguém reconhecida como representante de Deus é
como se estivesse insultando o próprio Deus, ou seja, se fosse Davi, ele teria
matado um a um pois estavam afrontando ao Deus vivo, não reconhecendo a unção
de Deus na vida de Eliseu. Entretanto, quando Eliseu amaldiçoa os rapazes, o
faz, não por se sentir ofendido, tão pouco em seu próprio nome, mas no nome
daquele que era, de fato, o alvo das injúrias: O Deus de Israel.
Que nós possamos
considerar os contextos na análise de textos como esse. Deus nos abençoe.
Referências
Bíblia
de Estudos Almeida.
Bíblia
do Expositor.
Comentário
Bíblico Beacon.
Disponível
em: http://telahebraica.blogspot.com.br/2009/10/calvicie-de-eliseu-e-os-42-jovens.html.
Acesso em: 06 abr. 2017.
Disponível
em:
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/892_632.pdf.
Acesso em 06 abr. 2017.
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